A corrida de São Silvestre sempre fez parte de minha vida. A começar que eu nunca morei fora do perímetro da prova e, bem pequeno, mudei-me com minha família para uma travessa da rua da Consolação, onde a corrida passa na esquina de casa.
A prova era completamente ao contrário. A começar pelo horário, pois era à noite que os atletas viravam o ano correndo. E a Consolação era a subida, porque o corredores largavam ao contrário. Era muito engraçado, porque ficava um monte de pessoas embriagadas zoando com os corredores, acho que foi por isso que mudaram o horário. Tinha um cara que, todo ano, ele ia pra janela e ficava gritando, depois que o primeiro atleta completava a prova: “A corrida já acabou, por que vocês estão correndo ainda”, muito animador pro cara que estava se esgoelando pra subir a Consolação....
Outro lance inusitado foi quando um cara, visivelmente alterado, gritou para um corredor que estava puxando uma carrocinha: “Corre burro sem rabo!!!”. Pra quê? Começaram o ano aos tapas. Não era muito comum na corrida esses tipos inusitados, vestidos de noiva, de Batman, de Mulher Maravilha correndo devidamente trajados. Acho que esse cara da carrocinha foi o percussor dessa mania.
E por falar em caras vestidos, eu corri a São Silvestre 2 vezes. Na segunda vez, eu fui ultrapassado, no ‘minhocão’ (também conhecido como elevado Costa e Silva), após 20 minutos de prova, por um senhor de uns 80 anos que vinha correndo fantasiado de ‘nãoseioquê’ e brincando com um ioiô gigante. O velhinho passou por mim falando: “Precisa parar de beber, meu filho”. E eu estava sóbrio total... Depois dessa, repensei minhas participações nesse tipo de prova. Mas eu tive o meu ponto alto também, porque nessas duas vezes que eu corri foi na nova fase, quando, logo no começo da corrida, passei pela Consolação. E quando eu passava na esquina de casa, todos os porteiros dos prédios e alguns vizinhos, ficavam gritando, incrédulos: “Olha o Hilário! Olha o Hilário!” E eu passava como se fosse ‘o atleta’. Os corredores ao meu lado ficavam até me olhando, pensando tratar-se de algum famoso, mas não, era só eu tentando completar a prova. Na verdade, nunca completei, sempre que eu chegava na esquina da Ipiranga com Rio Branco, eu ‘olhava pra direita’ em direção à minha casa e via a geladeira cheia de sobras do Natal me esperando, e pra lá eu ia. Imagina, deixar de comer tender com coca-cola e nozes pra ficar subindo a Brigadeiro...
Ao longo desses anos, eu vi muitos mitos correrem a prova, como o colombiano Victor Mora, o brasileiro José João da Silva, que tirou um jejum de anos sem títulos para o Brasil, outro brasileiro chamado João da Mata e o equatoriano Rolando Vera. Entre as mulheres, pude assistir às vitórias de Rosa Mota, de Portugal, e Aurora Tenório, do Equador. Quando chegou a hegemonia queniana, com Simon Chemwoyo e Paul Tergat, a partir de 1991, eu já tinha caído no mundo e não mais assisti à São Silvestre ao vivo, mas sempre pela televisão, onde quer que eu estivesse.
Na virada de ano de 2007 para 2008 eu estava em São Paulo, e pude assistir uma das cenas mais impressionantes que eu vi em todas as edições da corrida: Os quenianos descendo a Consolação, juntos, bem à frente dos demais, como se estivessem em um sprint final, com passadas largas, centrados, pareciam máquinas de correr. O vencedor daquele ano foi o queniano Paul Cheruivot. Em 2008 e 2009 outro queniano, chamado James Kwambai, venceu a prova, mostrando a hegemonia africana na competição. No ano passado a vencedora também foi uma queniana. Alice Timbilili mostrou a força da mulher africana vencendo a prova. Os dois são os favoritos pra este ano, mas o brasileiro Marilson Gomes dos santos promete surpreender a todos. A aposta deste que vos escreve está no atleya do Fontana, o valoroso e incansável Bita. Espero ver Porto Seguro no pódio (sem Abade do lado, claro).
O circuito é de 15 km. O recorde da prova é de 43min12seg, de Paul Tergat em 1995. Marilson quer fazer a prova em menos de 44 minutos e sagrar-se tricampeão (ele venceu em 2003 e 2005), mas eu acredito que Bita, do Fontana, faça em menos de 43 minutos. Oxalá!!!
Um pouquinho de história
A corrida de São Silvestre, nome dado em homenagem ao papa canonizado neste dia, teve início em 31 de dezembro de 1925. Nem mesmo durante a segunda guerra mundial a prova deixou de ser disputada. Em 1945 foi liberada a participação de estrangeiros, mas apenas para sul-americanos. Em 1975 as mulheres surgiram em cena, fazendo sua primeira participação.
O maior vencedor de todos os tempos, no masculino, é Paul Tergat, do Quênia, que venceu a prova 5 vezes (1995, 1996, 1998, 1999 e 2000). No feminino, a maior vencedora é a portuguesa Rosa Mota, que venceu a prova 6 vezes (1981, 1982, 1983, 1984, 1985, 1986).
São Silvestre 2010
No dia da corrida, peguei minha bicicleta e fui, junto com minha filha, dar uma olhada na avenida Paulista antes do início da prova. Cada figura que eu nem conto, ou melhor, conto sim. O mais engraçado, em minha opinião, era um cara vestido de Dilma, com um pepino e um abacaxi nas mãos. Tinha de tudo: super-heróis, figuras folclóricas, palhaços, sósias de celebridades e até corredores.
Na descida da Consolação, lá estava eu acompanhando a prova e, como todo mundo, brincando com aqueles que fazem da corrida uma festa. O pelotão queniano, desta vez, não estava tão compacto, tanto que o vencedor foi o brasileiro Marilson, agora tricampeão da prova.
O mais curioso foi que eu vi o atleta do Fontana Bita. Eu gritei “Ô Bita”, ele, quase sem virar, gritou “ô meu irmão”, acho que sem saber quem era. Se alguém encontrar com ele, por favor diga que era eu.
Abraços a todos e um excelente 2011 para todos nós!!!!!!
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