Os desbravadores colonos japoneses investem na produção de um chá com fama de milagroso.
A comunidade de origem japonesa na região de Juazeiro e Petrolina tem pouco mais de 700 pessoas, quase todas envolvidas com agricultura; é onde os japoneses e seus descendentes mais gostam de mostrar a sua capacidade de inovar e arriscar.
A uva e a manga dividem quase que totalmente a produção agrícola dos japoneses que vivem na região de Juazeiro e Petrolina. Para as outras atividades, sobram pouco mais de 10%. Mas colono japonês adora um desafio agrícola, e nós fomos em busca dos novos desbravadores.
Seu Mamoru Yamamoto é um deles. Seus pais vieram para o Brasil em 1925; ele nasceu em Birigüi, interior de São Paulo, e veio para Nordeste há quase 30 anos. Seu Yamamoto já trabalhou multo na vida – foi um dos maiores produtores de uva do Nordeste – e continua trabalhando muito, agora numa atividade inédita na região e rara no Brasil.
Mal a nossa equipe de reportagem senta para conversar, ele começa um ritual obrigatório para todos os que chegam na sua propriedade: mostra uma coleção de documentos. Mais adiante, nós vamos contar do que se trata a papelada.
Seu Yamamoto é hoje um dos únicos produtores do Brasil que plantam amoreiras não para tirar o fruto ou alimentar o bicho-da-seda com as folhas da árvores, mas para produzir o chá de amora miúra – uma variedade que, ele garante, faz milagres para a saúde.
A folha da amora miúra e famosa por ser muito nutritiva. Por isso, é ela que alimenta o bicho-da-seda no seu inicio de vida. “É como se fosse a amamentação para a criança. Na primeira etapa, o bicho-da-seda tem que comer essa variedade”, explica o agricultor.
A produção de chá já chega a 40 toneladas por ano – muito maior do que ele teria se plantasse em regiões mais ao sul, com inverno mais rigoroso. “Aqui no Nordeste, como o clima é quente e seco, acho que aqui concentra mais nutrientes. A gente se beneficia porque nos estados de São Paulo e Paraná não se produz amora de abril a setembro; aqui, produz o ano inteiro", compara seu Yamamoto.
Mas depois de muitas horas conversando sobre chá e andando pela plantação, nós ainda não tínhamos visto uma amora sequer na propriedade. “A amora aqui não é aproveitada, porque ela é multo pequena”, justifica. A fruta e tão desconsiderada, que seu Yamamoto nem sabe onde é que tem.
Depois de muito procurar, seu Yamamoto acha uma amora para nos mostrar. De longe, ela parece uma florzinha; como ele não usa agrotóxico, pode-se comer direto do pé. A fruta é multo gostosa, mas só quem sabe disso são os moradores e funcionários da fazenda. Seu Yamamoto não te planos de produzir a fruta para vender: “Só se um dia compensar economicamente”.
Propriedades do chá
Por enquanto, tudo esta voltado para o chá. Seu Yamamoto sonha em exportá-lo para o Japão, onde a bebida e mais conhecida – e esse um bom momento para a gente revelar o que tem, afinal, naqueles documentos tão importantes que ele nos mostrou quando chegamos: é o relatório final de um estudo feito pelo ministério da Saúde do Japão, com resultados impressionantes.
Pesquisas feitas com ratos mostraram que o chá de amora miúra melhora o funcionamento do fígado e dos rins, diminui a pressão arterial e a taxa de glicemia. Foi eficiente até na prevenção do câncer.
O chá tão poderoso e feito como qualquer chá comum: seu Yamamoto coloca as folhas na água ainda fria, deixa ferver por uns 10 minutos, coa e pronto. Ele toma o chá o dia todo, como se fosse água. O sabor é muito suave, não desagrada a ninguém.
Mas de fraquinho o chá só tem o gosto, segundo seu Yamamoto. Ele quer de qualquer jeito que a gente conheça um funcionário da propriedade, seu Sebastião dos Santos, que resolveu tomar o chá porque tinha vários problemas de saúde. “Resolveu, graças a Deus. Eu era muito gordo, tinha quase 100 quilos”, conta ele, hoje magro. “Eu tinha multo cansaço, ia trabalhar e ficava cansado. Hoje, eu trabalho o dia inteiro e não sinto mais nada", garante.
Mas é o próprio seu Yamamoto o maior garoto-propaganda do chá: aos 75 anos, nenhum obstáculo no caminho chega a ser um problema. Ele adora mostrar que esta em forma. As mudanças na vida dele já fazem parte de uma extensa lista: “Por exemplo, eu tinha manchas pretas do tamanho de moedas de 10 centavos. Com três anos tomando chá, praticamente desapareceram”, ele diz. “Se você usa um cosmético, em geral, ele trata a superfície; esse chá, não, ele começa a limpar a camada inferior”.
E não pára por ai: seu Yamamato guardou o grande trunfo para o final: ele garante que o chá faz nascer cabelo. Na foto da carteira de motorista, de três anos atrás, ele está bem mais careca – e jura que não fez implante nenhum.
Para quem quer chegar aos 100 anos, seu Yamamoto sem dúvida esta no bom caminho, todo serelepe, ignorando solenemente o calor do sertão.
por Carlos Dorneles e Francisco Maffezoli Júnior para o Globo Rural de 15.06.2008
Dr. Tamada
0 comentários :
Postar um comentário