Hilário Pimentel- Esporte por aí - “Entra prefeito, sai prefeito e ninguém faz porra nenhuma”
Foi o que Rita Lee falou na abertura da Virada Cultural, que aconteceu neste final de semana em São Paulo. Ela referiu-se à cidade de São Paulo e seus governantes, mas lembrou-me muito uma cidade que conheço no sul da Bahia. Se bem que na Bahia eles fazem, fazem enriquecer, sem dúvida nenhuma disto. Por aí, e pelo Brasil em geral, não se vota no futuro prefeito e sim no futuro milionário.
Mas voltando à Virada Cultural, evento magnífico que oferece dezenas de atrações gratuitamente durante 24 horas, podemos ainda traçar um paralelo entre São Paulo e Porto Seguro, a fim de chegarmos a conclusões de como o país da copa do mundo e das olimpíadas organiza seus eventos.
Eu não sei se existe inferno, ou pelo menos se existe naqueles moldes que todos têm na cabeça, com almas atormentadas vagando pelo vale das sombras. Se o inferno é assim, o mais próximo que eu pude ver desse modelo, nesta vida terrena que atravesso, é a cracolândia no centro de São Paulo. O leitor que não conhece, não tem idéia da dimensão do problema. Problema que deveria ser sanado pelos governantes, mas daí a colocar um evento no coração da cracolândia, onde espera-se que o cidadão de bem, aquele que é contribuinte e paga seus impostos, vá divertir-se com a família, é brincar muito com a sensatez. Colocar um show da Blitz, onde o Paulão da Grande Família canta “Perdi meu amor, no paraíso” é o fim. Amor e paraíso estão longe dali. Enquanto isso os noias atravessam a multidão para os mais variados fins, desde coletar latinhas a pequenos furto. Não dá pra fazer um evento de porte se não existe a menor condição de segurança, humanidade, decência, enfim, no local.
Em Porto Seguro tenta-se fazer que a indústria do turismo funcione sem a grandes possibilidades de que isto aconteça plenamente, apesar da estrutura dada por Deus. O que acontece com o turista em Porto Seguro? Chega, já é obrigado a comprar os passeios no traslado do aeroporto ao hotel, tendo a sua semana tomada por atividades diversas e tendo que ir àquele local ou barraca de praia em específico. Na praia, tem que aguentar todos os tipos de ambulantes, que oferecem os mais variados produtos, lícitos ou ilícitos, alguns sob ameaça (aquele vendedor de ostras colhidas no cais, doidão, continua agindo na cidade? E os tatuadores que usam Bingen?). No hotel, estabelecimento este que está incluso no pacote de 600 reais, pagos em 10 suaves prestações sem juros, o turista junta-se com a galera e aluga um buggy. Sai e o buggy quebra, por excesso de lotação e falta de fiscalização neste tipo de veículo, ou ainda por ser “veículo pirata”. Pronto, está feito o armengue. O buggy é consertado e ele vai pro centro da cidade. Para o buggy e o noia flanelinha vem arrancar uma grana, oferecendo, inclusive, lavagem do veículo em pleno centro da cidade. Molha a mão do flanelinha e vai dar uma volta na passarela (cujo nome nem sei ao certo qual é mesmo), desvia de garçons e vendedores de capeta naquele corredor polonês e encontra no meio da passarela, em meio àquele mercado persa que esconde toda a bela arquitetura antiga da cidade, o ambulante que ofereceu-lhe substâncias. Que férias, hein? Não era melhor ter ido para o Cambodja, Laos ou Vietnan? Isso, claro, é só uma caricatura do que acontece no dia a dia, mas o problema é pior do que este.
Quando fala-se que o problema do Brasil é a Educação, o sujeito logo pensa na aritmética, na concordância ou no malfadado verb to be, mas o problema é mais embaixo, é problema de educação mesmo. É questão de caráter, de valores, de postura, enfim, a 7ª economia do mundo pagará um preço elevado pelo descaso com esses valores. E a Educação propriamente dita (aquela da aritmética, da concordância, do verb to be) também está deixando a desejar, principalmente aqui em São Paulo, onde o PSDB alegava apresentar uma educação de qualidade. Balela pra bovino cochilar, ninguém quer ser professor por aqui, principalmente para o Estado, pois ... Ah não deixa pra lá, isso é assunto para outra crônica do Esporte por Aí (mas cadê o esporte nesta narrativa?). Sim , teve esporte na virada cultural, teve luta livre, muito legal. É isso.
Será que o Brasil tem jeito até 2014? Muitos estão fazendo sua parte...
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