Calma, não é nesse sentido que te veio à cabeça, mas às vésperas de completar quarenta anos vivo uma das fases mais sem vergonha da minha vida.

Confesso que ando sem vergonha nenhuma de me fazer de cega prá muitas coisas que insistem em me vir aos olhos. Não tenho mais vergonha nenhuma de ver a casa bagunçada e não dar bola nenhuma, muito menos vergonha de ver que não adianta todos os esforços concentrados que executo, estou envelhecendo. É fato. Mas meus olhos vão bem, obrigada, ainda não preciso de óculos.

Também não tenho vergonha alguma em admitir que, além da surdez natural que adquiri na época que fui secretária e me rendeu um zumbido - tipo ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii - no ouvido em tempo integral, não tenho mais vergonha em me fingir de surda prá muitas bobagens que ouço. Melhor deletar e ser feliz que captar e se ferrar, sendo obrigada a responder à altura e com inteligência. Isso cansa e causa rugas. Tô fora. Deixa essa superioridade para os mais 'jovens'. Com o tempo a gente aprende a fazer ouvido grosso, como dizia meu pai.

Outra coisa que a idade e as agruras da vida nos ensinam é que o silêncio é ouro e que se não tivermos alguma coisa prá falar que valha mais do que o bom silêncio, melhor calar.
Não me apraz discussões intermináveis sobre o sexo dos anjos e bate bocas esdrúxulos, que não edificam. Nesse sentido acho que já nasci quaretona, pois nunca fui dada a bate boca. Credo.

Apesar de todos esses probleminhas, inerentes à idade, me vejo a cada dia mais jovem. Mais relaxada e mais desencanada. Descobri que enxergar bem, ouvir bem e falar muito são coisas de gente velha, ranzinza, xereta. Eu fora.
Prefiro assumir meu lado sem vergonha.

(publicado originalmente no informativo impresso "Recadinhos da Bebel")


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