CORDEL - É com imensa satisfação que recebi um e-mail de Janete Lainha lá de Ilhéus autorizando a postagem de uma Literatura de Cordel de sua autoria. O que muito nos honra pela participação no VITRINE DA COSTA que se rende à sua importância em meio a arte e a cultura na Bahia.
Mestre da cultura popular, Cordelista, Diretora da casa da cultura popular de Ilhéus,Propietária da casa camarim arte e cultura aluguel de festas e fantasias, Gestora cultural, Produtora cultural, Figurinista, Atriz, Psicopedagoga e Poeta. Nossa....... São apenas alguns dos atributos dessa baiana que desde já integra o VITRINE DA COSTA e promete trazer o melhor da arte e da cultura do Sul e Extremo Sul deste estado,onde as pessoas não nascem... estreiam...
Vejam que linda obra da Literatura de Cordel Janete nos presenteia, tendo como foco a ponte que liga o Pontal ao Centro de Ilhéus. Lugar onde vivi alguns dos meus melhores dias...
N° 397 A PACIÊNCIA DO ILHEENSE É TORRADA NUMA PONTE
Mulher pra sobreviver
Tem que ser criativa
Nem mentir nem roubar
E ser muito positiva
E se te interessar saber
Leia da ponte narrativa
É apenas minha arte
De uma poetisa popular
Onde mostra a cultura
De uma forma singular
Quem tem jogo de cintura
Cabe em qualquer lugar
Agosto de sessenta e seis
Eu guardo na memória
Este lindo acontecimento
Fazendo parte da história
Em Ilhéus-Bahia Brasil
Para a sua honra e glória
Pelo Presidente da República
No dia quinze inaugurada
Por Marechal Castelo Branco
E toda sua armada
Com o chefe da Casa Civil
Naquela época passada
Ali foi homenageado
Esta grande autoridade
O governador Lomanto Jr
Deu seu nome com amizade
A população compareceu
Com tamanha felicidade
Todo o povo comovido
Num verdadeiro Carnaval
Agradecendo à boa sorte
Pela ponte fenomenal
Registrando bem ali
Grande marco cultural
É uma moderna ponte
330 m de sustento
Nascida de sete meses
No maior acontecimento
Um extremo progresso
Em seu funcionamento
Sua corda umbilical
Ali mesmo foi cortada
Com uma tesoura de ouro
No som da batucada
Em seu berço esplêndido
Sendo ela bem amada
Todos ali chegaram
Hebreu, alemão, inglês
Italiano e Espanhol
Português e Francês
Prefeito e governador
Consul, Coronel, Marquês
De Minas e de São Paulo
Também da Guanabara
Gente de todo lado
Ali mostraram a cara
Que a beleza desta ponte
De nós não se separa
Os veículos que passavam
Dispensavam a atenção
De Toyota a Carreta
Marinete e Caminhão
Carroça e Motocicleta
Tremenda organização
A baía bem mais larga
E muito mais profunda
Com toda sua estrutura
Onde a natureza abunda
O retrato da grandeza
Faz dela enorme fecunda
E nesta grande ponte
Quisesse ou gostasse
Cercado por claras águas
Todo ente que passasse
Veria uma lembrança rara
De sua maravilha e classe
Influí entre as estradas
Lambendo pelas beiras
Rio-Bahia em sua Costa
O litoral de Canavieiras
Olivença, Belmonte, Una
Plantações de Seringueiras
A ponte ligada ainda
Ao aeroporto local
Aonde chegam turistas
E os que moram no Pontal
A margem do Rio Cachoeira
Vê a sua pia batismal
Nesta minha narrativa
Vou abrir um precedente
Pra explicar ao leitor
Dizendo que antigamente
O povo pra atravessar
Era de balsa somente
Eu afirmo aos leitores
Que gosto muito da paz
Tem momentos na vida
Que agente fica voraz
Escute o que vou contar
A nossa sorte o que traz
Da vida de nossa Ilhéus
Eu só posso falar bem
Pois foi onde me criei
Minha família também
Passando nesta ponte
No vai e volta vira e vem
Com o Cordel e a cultura
Eu duplico esta fonte
É tamanha indecência
A existência deste afronte
Ver toda a nossa paciência
Ser torrada nesta ponte
Hoje a população cresceu
Vivemos outra realidade
O controle do trafego
Só nos traz dificuldade
A segurança da população
Virou uma banalidade
O nosso cartão postal
Agora virou desculpa
Tá caindo aos pedaços
Não sabe de quem a culpa
Do que ontem ela foi
E do que ora se esculpa
O homem que a esculpiu
Com sua engenhosidade
Mostrando rara beleza
A visão da linda da cidade
Agora com toda certeza
Virou uma imoralidade
Quando nela chego cedo
Sinto logo a tremedeira
A ponte se balançando
E outro carro na traseira
Saio com todo cuidado
Pra não fazer uma besteira
Pra passar ali de pé
Tem que ser em disparada
Rezando pro padroeiro
Pra não ser atropelada
Dividir com as bicicletas
Passando pela beirada
Quando tiver com pressa
Preste muito atenção
Veja o horário de passar
Cuidado com o coração
Também leve o celular
E veja a sua condição
Estão obstruídos os drenos
Ficando ela muito doente
Parapeito do lado esquerdo
Todo dia falta um dente
Emendados os corrimões
Não tem ponte que aguente
Tem buracos na pista
Perigo de colisões
Falta manutenção
São muitas as confusões
Querem saber de quem
E quais as soluções
Lá de tudo acontece
Tem a escuridão e a luz
O que guia o que dirige
O que acelera o que reduz
Tem o que é conduzido
Tem aquele que conduz
Porque só se ouve a noticia
Que foi passar uma idosa
Com uma enfermidade
E ficou muito nervosa
Não queria passar por esta
Experiência dolorosa
Também soube de uma outra
Que saiu do carro andando
Esta tinha um dos filhos
Que estava agonizando
Com seus dezenove anos
No hospital tava esperando
O doutor assim alerta
Não é ponte de safena
É coisa que se adoeça
Tumor, bicheira, gangrena
Mas o povo que esquece
Este é digno de pena
Ninguém sabe se vai passar
Ou ficou lá esquecido
E logo querendo voltar
Como tinha prometido
Pode virar uma desgraça
Ou um erro cometido
Dizem assim os matutos
Saí março chega setembro
A vossa mercê bem sabe
Avançando a novembro
Nós sabe que no Natal
Papai Noel ora se lembro!
O momento de calmaria
Quando passa um corredor
Ele já tem a impressão
De que tudo ali é perdedor
Parados como estão
São dele admirador
Disse um homem abastado
De uma forma inteligente
Quando quero alguma coisa
Que seja necessariamente
Eu vou mandar meu jet-ski
Na viagem mais urgente
Justiça seja feita
Para ele ter esta mordomia
Ele tem que comer o pão
Que o demo amassou um dia
Vai sair falando mal
Do povo aqui da Bahia
Disse um surfista nela
Que na agonia da hora
Seu amigo enlouqueceu
E quis pular ali na tora
Não tinha quem salvasse
Sua prancha jogou fora
Disse um outro maluco
Homem eu não sou nada
Se eu pular eu morro ou
Fico com a roupa molhada
Na próxima trago uma égua
Na carroça amarrada
O avexado do carro saiu
Querendo ir embora
Do outro lado esperam
Com pouca passa da hora
E ele preso aperreado
Botando os bofes pra fora
Um ao outro disse logo
Sua vontade é que manda
Você aqui não vai mentir
É pra frente que se anda
Daqui não se pode sair
Faça logo uma ciranda
Alguém vai trazer inimigo
E uma cilada vai armar
Vai levar pra um passeio
E desta ponte jogar
Lá empurrando ele
Pra nas aguas se afogar
Tem aquele que vem
Visitar seu amigão
Telefona pra família
Fazer boa recepção
Busca no aeroporto
Que ele chaga de avião
Então desce do avião
Parecendo sair do céu
Pescocinho levantado
Usando terno e chapéu
A ponte tá um inferno
E já começa o escarcéu
Os que saem de suas casas
Pra angariar a vida
Passa de madrugada
Pra chegar cedo à lida
Sujeito a ser assaltado
Tiro paulada ou batida
Vem à comerciária
Atravessar esta danada
Fica melhor em casa
Que não pode ser cobrada
Corre o risco de chegar
No trabalho atrasada
Na fome do meio dia
Nesta hora a passar
Comer o seu malpassado
Logo cedo quer chegar
O sol quente consome
E a sua pele vai queimar
E não adianta gritar
Que ninguém vai ouvir
Vai pensar que é ladrão
Querendo depressa sair
Estão no ar condicionado
Quem no carro possuir
Os despossuídos zoa
Lá te deixa aturdido
Pois fecha o vidro do carro
Por causa do alarido
Começa a fazer calor
E o juízo é aquecido
Isto se outro carro
Ali não der defeito
Achar quem o empurre
E um mecânico dê jeito
Dobra o tempo por lá
Coitado desse sujeito!
Se o carro for velho
Aumenta a canseira
O cabra tá derrotado
Por fazer esta besteira
Não tem tempo pra mudar
Da marcha à primeira
Quando em tempo de festa
Ali no seu prolongamento
O tumulto é bem geral
Causando grande tormento
Fazendo da sua calçada
Grande estacionamento
Logo ali na sua direita
Pode haver uma explosão
O que não falta é gasolina
Em toda aquela extensão
E na esquerda a ladeira
Despenca na contramão
Passa o poeta plagiador
Por lá tem um bocado
Também dono de hotel
Se sente martirizado
Do hotel pra o passeio
No carro fica entalado
É só olhar lá da praça
Onde carros faz contorno
Olhar para o jardim
E tudo que tem em torno
Se teve um dia ruim
Vai dobrar o transtorno
De volta para casa
Tem rosa e tem espinho
Tem pedra e tem tropeço
A Ponte e um buraquinho
Os dois sempre estão lá
Atrapalhando o caminho
Depois numa caderneta
Que você tanto escreveu
Ano, mês, dia e hora
O que foi que sucedeu
Como tu ficou nesta ponte
E qual o resultado seu
Nas voltas que a vida dá
Se assumir o que se é
A vida humana é igual
Ao vai e vem da maré
Envelhece sabe muito
O novo esquecido é
É que as coisas por aqui
Quase ninguém se engana
Quem vive de promessa
É chamado de sacana
Tem que cair na real
E cobrar toda semana
Peço ao prezado amigo
Que use de consciência
Pois aqui os recursos
Chegam com deficiência
Não mande seu ninguém
Pra perder a paciência
Muito que ainda resta
Pra definir a questão
Que pode ser imediata
Dependendo do povão
Dos nossos governantes
Uma boa administração
Antigamente sem ponte
Atravessava de besouro
Ou em pequenas lanchas
Quando cacau valia ouro
Barcos, canoas e lanchas
Hoje se deu este estouro
O caso ficou bem sério
Foi parar na Prefeitura
A senhora dona ponte
Tá ruim da estrutura
É pouca a iluminação
Ferrugem e rachadura
Foi pra boca do povão
E do passado glórias
Brincadeira, gozação
As imagens ilusórias
Muito saudosismo
Por “ideias gozórias”
Vigas, pisos, passeios
Foi feita a RESTAURAÇÃO
Na estrutura dos pilares
Uma boa recuperação
Guarda-rodas, guarda-corpo
Rede elétrica e iluminação
João, Jabes, Jamelão
Chega de tanto nome
Arre! Com tanto dito
Também de muito pronome
Perdão, pedido e bendito
A paciência consome
O tempo passa e voa
E no tempo sua ação
Se fala em outra ponte
Ou na sua duplicação
Eu vou aqui continuar
Nesta outra confusão
O leitor há de dizer
Não é passagem pra mim
Porém existe um critério
Que só se sabe no FIM
Do cordel mais uma história
Que continua assim...
Promessa de Forrest Gump
Em seu novo cenário
Fabrica de avião e Toyota
Formula Indy ou Oceanário
Uma manchete antecipada
Do seu cinquentenário
Pode ser uma grande piada
Ou de São Jorge os festejos
Começa pela manutenção
E pelos papa caranguejos
Bagaceira de borra-botas
E pizza de quatro queijos
Hoje é mais importante
Que seja o Projeto viário
Mais que o construtivo
Escuto o comentário
Uma avaliação técnica
Ou contorno Rodoviário
Na visão dos técnicos
O “abacaxi” eliminará
O trânsito transtornado
E logo o centro fluirá
E a zona sul da cidade
Com ele a desafogará
Sobre esta questão
A Prefeitura Municipal
Pretende conseguir apoio
Do Governo Estadual
E detalhamento técnico
Vem do governo Federal
Solução em longo prazo
É construir um anel
Casando com o rodoviário
Com o povo e o Cordel
As margens do Fundão
Nela permanecer fiel
Lá existe concentração
Desordenada de casa
Precisando intervenção
Senão com ela descasa
Bem na beira do asfalto
E do passeio extravasa
Uma nova ponte entre
A famosa praia do Cristo
E o morro de Pernambuco
Estaria ali previsto
Caindo na Dois de julho
Pra acabar com tudo isto
Uma segunda concepção
Nova paralela a atual
Almirante Aurélio Linhares
Trazendo outra adicional
Embaixo da mesma ponte
Voltando o fluxo normal
Esta opção por sua vez
Implica numa ampliação
Da Av. Lomanto Junior
Através de uma construção
Da calçada em “balanço”
E o enroscamento da mão
Enroscada eu fiquei
Foi no engarrafamento
Engenheira eu não sou
Sou sem apadrinhamento
Peço a meu bom Deus
Que me dê o livramento
Eu peço porque sei
Quando chegar sua vez
De precisar atravessar
Vai se tornar freguês
Transitando nesta ponte
Como sempre você fez
Assim para os políticos
Vou registrar a opinião
Eles só lembram daqui
Em época de eleição
Governo e prefeito
Também nela passarão
A gente daqui que passa
Digo sou passarinho
Correndo de agitação
Levo a vida de mansinho
Pressa não liga com perfeição
Lá eu passo devagarinho
Todos os seus familiares
João, Maria e Clemente
E qualquer camaradagem
Por esta ponte presente
Vai precisar de coragem
E ser bastante paciente
Este assunto ainda deixa
O povo preocupado
E melhor dar por aqui
O caso por encerrado
Pois sou filha da terra
Passo ao interessado
A quem lê eu endereço
Meus abraços cordiais
Já conhece esta poetisa
Dispenso os cerimoniais
Vá na Caixa Econômica
Deposite dois reais