Cauby Peixoto, após essas duas palavras mágicas geralmente se ouve um brega, cafona e outros adjetivos similares. Mas Joelma e Chimbinha da Banda Calipso, Reginaldo Rossi, Gaby Amarantos e outros tantos, são a maior prova de que há uma parcela da população – muito maior do que você pensa – que ama a breguice. Nada mais explicaria o volume de vendas de CDs e DVDs (fora as vendas piratas) e a multidão que os cantores e bandas bregas arrastam a seus shows por todo o Brasil.

Ser considerado por revistas americanas “o Elvis Presley brasileiro” não é para qualquer um. Apenas Cauby Peixoto tem classe para sustentar tal título em cima de sapatos devidamente lustrados e dentro de ternos reluzentes e perfeitamente alinhados, sem arrepiar um único cacho de cabelo. Não se pode negar que o cantor de voz aveludada mantém sua elegância como prioridade, ainda aos 79 anos – 56 deles de carreira -, com a mesma vaidade do jovem aspirante a cantor que apostava que uma boa vestimenta o ajudaria a chegar ao sucesso.

O "bom" que encerra este texto é uma cotação para o esforço de se lançar duas caixas, com seis CDs cada, reunindo gravações de Cauby Peixoto entre 1968 e 1995. Antes do trabalho do selo Discobertas, apenas cinco títulos tinham recebido versões digitais — já esgotadas. Dois discos, batizados de "Raridades", são compilações inéditas de compactos e registros esparsos feitas pelo pesquisador Rodrigo Faour, biógrafo do cantor.

Bom mesmo é "Cauby! Cauby!" (1980), o principal trabalho da chamada segunda fase do artista — a primeira foi a do auge da popularidade, na década de 1950. Foi nesse disco que ele interpretou "Bastidores" (Chico Buarque), "Cauby! Cauby!" (Caetano Veloso), "Oficina" (Tom Jobim), fez sucesso com "Loucura" (Joanna/Sarah Benchimol) e ganhou respeito de quem o via como irremediavelmente ultrapassado.

Mas há vários bons momentos espalhados pelas caixas. Essa irregularidade não é casual. Com a bossa nova e o surgimento da MPB, Cauby ficou no limbo. Tornou-se, então, um caçador de oportunidades de reencontrar o sucesso do início da carreira.

Os produtores o jogavam de um lado para o outro: de compactos de jovem guarda para versões de canções estrangeiras (o fraco "O explosivo", de 1969); de um disco voltado para o mercado latino (o eficiente "El explosivo", 1969) para um mais sofisticado, já com músicas de Chico, Caetano e Tom (o quase todo bom "Superstar", 1972); de um trabalho produzido por Adelino Moreira, o autor das canções boêmias de Nelson Gonçalves (o oscilante "Cauby", 1976), para um romântico que combinava o "Outra vez" estourado por Roberto Carlos e a classe de Sueli Costa e Tite de Lemos ("Medo de amar n 2") com os então craques do sambão Benito di Paula, Luiz Ayrão e Wando (o predominantemente agradável "Cauby", 1979).

Além deste último e dos discos de 1969, as caixas trazem dois inéditos em CD. "Um drink com Cauby e Leny" é o registro de um show com Leny Eversong em 1968, na boate Drink, que ele abriu no Leme com seus irmãos. Só vale para os fãs, pois a qualidade do som é muito baixa. E "Cauby!" (1986) traz boas faixas como "Spotlight", "Vingança" e "Ternura". Condenar os exageros vocais de Cauby é querer que ele não seja o melhor que pode ser. As caixas mostram que, quando adequou bom repertório à sua voz poderosa, Cauby brilhou. Pena que não teve meios de criar seu próprio caminho e ficou à mercê de outros. Fica a torcida para uma caixa com a fase RCA/Columbia, a dos anos 1950.

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