Num mundo cada vez mais artificial e regido pelas relações de poder, permanece como um dos maiores e mais fantásticos mistérios para a alma humana a essência do amor, particularmente do amor entre homem e mulher.
Esse amor é intrinsecamente ligado a nossa existência física. Somos, para nós mesmos, um universo, mas se antes de nascermos não existíamos, por que devêssemos continuar existindo após a morte? Se antes de vir ao mundo através de uma mulher não estávamos aqui, não seria também natural supor que após morrer também deixemos de existir? Do nada viemos e ao nada retornaremos? É uma questão muito mais metafísica do que científica ainda aos dias de hoje. Entretanto o fruto de uma união entre dois seres de sexo oposto não é, em si mesmo, a continuação de qualquer dos genitores. O filho é uma vida independente, com uma personalidade que em nada pode se assemelhar ao do pai ou a da mãe. Até a fisionomia pode ser completamente distinta. Casais “feios” podem gerar filhos de beleza estonteante, da mesma forma que o inverso também se verifica. Não somos tão atrelados à genética como propagam alguns cientistas. Nem em aparência física tampouco em personalidade.
Precisamos ainda nos perpetuar?
Ora, se os filhos não são o prolongamento da existência daqueles que o geraram, qual a diferença entre tê-los naturalmente ou adotá-los ou mesmo em tê-los ou optar por não tê-los? Por que seriam tão essenciais assim à nossa felicidade? Pessoas podem estar satisfeitas com a vida que têm em ambas as situações. A explosão populacional que toma conta do planeta pode tornar sem sentido a idéia de que a nossa espécie precisa ainda se perpetuar. Esse raciocínio, contudo, não pode ser aplicado para quem procria ou adota com amor, que deve ser o sentimento prevalecente em tal decisão.
Penso que o amor sexual é um dos mais sublimes, belos e transcendentes. O amor verdadeiro sacia de tal forma como o mais delicioso dos manjares, ele empanturra o corpo e o espírito. Denis de Rougemont considerava que o a renúncia do ego, o abandono da vontade em favor do outro diferencia a paixão, o Eros, do amor divino ou ágape. O filósofo orientalista Allan Watts, em seu trabalho a Yoga Sexual, defendeu que as imagens do Kama Sutra nada tinham de pornográficas, como pretendiam teólogos e moralistas do Ocidente, mas representam um sacramento tão sadio quanto o matrimônio em nossa cultura. Nesse mesmo ensaio, Watts enfatizou que somos seres em correlação, não em separação e que o ápice do prazer sexual resulta em contemplação pelo ser amado. Ainda segundo esse autor, em nossa civilização de relógios e de horários, seria absurdo submeter o jogo do amor a temporalidade.
Amor exige exclusividade e respeito pelo outro
Diz a Bíblia que Salomão, então o rei mais poderoso da Terra, tinha centenas de esposas e concubinas, o que era natural naquele tempo, em que os homens viviam em guerras e precisavam gerar prole numerosa para manter a sua tradição familiar, heranças, etc. Todavia o amor terno demonstrado à sulamita no Livro de Cânticos mostra como aquela mulher era especial dentre todas as outras. E isso é o verdadeiro amor de um homem por uma mulher, ter todas à sua disposição, mas escolher uma para o seu coração. Pela mesma linha de compreensão, uma mulher que não aceita o seu homem como ele é, que não respeita os seus pontos de vista e não se conforma com a vida que ele tem, também não pode ser um exemplo de esposa. Há muito tempo antes de selar um compromisso conjugal para saber se aquela pessoa é ou não digna de consorciar-se. Se não atende às expectativas para que se unir a ela?
Amor é compromisso, é amizade, é união carnal e espiritual. É rir e sofrer junto. É compartilhar o gozo das delícias da vida e também carregar juntos o mesmo fardo. O amor é o laço que nos une com a nossa gênese, com a suprema divindade.
*Pedro Ivo Rodrigues é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail: [email protected]
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