As apresentações musicais ficaram por conta dos alunos das escolas Frei Calixto e Corujinha Feliz. Em ambas as turmas, apenas um dos alunos era surdo e o restante dos colegas acompanhou a interpretação das músicas que foi sinalizada na Língua Brasileira de Sinais. “Em vez de fazer com que esse aluno surdo faça tudo como os outros alunos, nós trabalhamos para que a turma o acolha e aprenda junto com ele”, explica a professora Cláudia Martins, demonstrando muita satisfação com a evolução do aprendizado dele e das demais crianças. “O processo realmente tem sido muito positivo. Hoje ele brinca, joga futebol e interage muito bem com as outras crianças”, relata.
A professora do Colégio Frei Calixto, Joselita Oliveira, também não escondeu o entusiasmo com o trabalho desenvolvido em sua escola. “Nós não tínhamos um dicionário, hoje já temos. Formos para Salvador fazer curso de Libras. Hoje temos um grupo de estudo aqui no Ceame. Eu gostei tanto que estou até hoje”, enfatizou. Joselita agradeceu também o apoio e dedicação da coordenadora Vera Liu. “No começo foi difícil, mas hoje eu amo de paixão trabalhar com surdos. Cada vez mais pessoas vão querendo aprender. Hoje eu compreendo os surdos e eles compreendem a gente”, comemora. Ela apresentou slides e um filme com surdos jogando futebol na quadra da escola.
Surdos falam
Todo o evento no Ceame contou com a tradução em Libras, feita por um dos professores do Centro. Foi aberto o espaço também para os surdos se manifestarem, seja verbalmente ou através da Língua de Sinais. Durante a comemoração foi apresentado ao público o ex-aluno Rogério Vieira, que está namorando firme, conseguiu tirar sua Carteira de Habilitação e trabalha e um mercado em Vera Cruz. Ao lado da namorada Lidiane Rocha, ele contou que entrega compras de carro e faz de tudo um pouco no mercado, onde já sabe usar o computador, fazer recarga de celular e passar o cartão de crédito dos clientes. “Nós nos comunicamos mais escrevendo no papel, mas eu já estou aprendendo a língua dos sinais e muita coisa eu já estou entendendo”, conta, sorridente, a namorada.
Além de Rogério, os alunos Otaviano, Wingles e Taiane também fizeram seus depoimentos. O tema predominante entre eles é a dificuldade de aprender outras disciplinas, além da Língua Portuguesa, por não existirem tradutores bilíngues (Português e Libras) para todas as matérias; a dificuldade de comunicação com os demais alunos e professores e principalmente, a vontade de se inserir no mercado de trabalho. “Eu tenho aprendido muito. Mas a inclusão é muito difícil. Nem sempre os outros nos compreendem. Seria bom se tivesse uma escola bilíngue. Tenho muita vontade de trabalhar e tirar a Carteira de Habilitação”, revelou Taiane, usando a Língua de Sinais.
Os avanços conquistados pelo Ceame foram relatados ainda pelos professores, Rômulo, Daiana e Fabiana(que é uma instrutora surda). Ela explicoua evolução dos surdos, a partir da Língua de Sinais. “Queriam obrigar os surdos a falar, mas agora eles são livres”, avaliou e mostrou como o preconceito ainda é um entrave para a inclusão. “As pessoas têm mania de dizer que surdo é mudo. Não gente, o surdo chora, o surdo ri, o surdo grita e a mão fala”, ensinou. Já o professor Rômulo falou sobre a utilização do computador como ferramenta didático-pedagógica. “A proposta do Ceame é trazer essa linguagem para os surdos, inclusive para aqueles que não possuem a vivência com essa tecnologia”.
Atendimento especializado
De acordo com a coordenadora do Ceame, Vera Liu, atualmente são atendidos 40 alunos da rede municipal e estadual de ensino. 13 intérpretes de Libras atuam nas salas de aulas onde os alunos estão incluídos. Entre as diretrizes da atuação do Centro de Educação Inclusiva estão: o ensino de Libras aos surdos, inclusive para aqueles que não aprenderam desde criança; o ensino de Língua Portuguesa, com alfabetização dos surdos e o uso da informática para comunicação e acesso ao mercado de trabalho.
Para oferecer esse atendimento especializado a Secretaria de Educação investe na formação continuada de educadores em Libras, com duas turmas no Ceame e uma no Arraial d´Ajuda. Além disso, diversos professores estão fazendo pós-graduação em Libras para atuarem como tradutores bilingues. “Temos muita gente estudando cada vez mais para ajudar os surdos, que durante muito tempo ficaram sozinhos com suas famílias”, constata Vera Liu.
A comemoração do Dia Nacional dos Surdos incluiu ainda uma homenagem a Merice Bittencourt, a primeira professora de Libras do município. “Hoje estou muito feliz, porque vejo essa evolução. Ver esses alunos falando no microfone é muito gratificante. Vera Liu realmente conseguis se impor e está de parabéns pela dedicação. O Ceame é realmente um avanço tremendo”, resume. Para Vera Liu, a recompensa vem com o reconhecimento da entidade, que vem se tornando referência para alunos, famílias e educadores de Porto Seguro e de outros municípios da Bahia, que frequentemente visitam a cidade para conhecer e se espelhar no projeto.
Hilda Rodrigues
Assessora de Imprensa
Secretaria de Governo e Comunicação
0 comentários :
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.