Por Pedro Ivo Rodrigues
O caso da promotora de justiça que foi sequestrada em Salvador, junto com uma juíza, e o desfecho da ação criminosa (roubo, agressão e estupro) é um episódio lamentável e mais um caso de violência covarde contra a mulher. Entretanto o caso se reveste de um contorno “especial”, uma vez que envolveu duas autoridades sendo uma do Ministério Público e outra do Judiciário, que comumente são blindadas contra os males que afligem os “simples mortais”.
Cresci ouvindo que “com juiz e promotor não se mexe”, como se fossem pessoas de quem devêssemos ter medo, ao invés de respeito. Alguns até se portam como se fossem uma super casta em nossa sociedade, acima do bem e do mal. Vez por outra são noticiados episódios de abuso de poder envolvendo autoridades, sempre contra os menos favorecidos. Jamais contra “figurões”, a exemplo de grandes proprietários de terra, empresários ou políticos. Não estou colocando isso de forma genérica, até porque a maioria dos juízes e promotores são pessoas sérias e honradas, que se prepararam com anos de estudo intensivo para o cargo que ocupam, mas dos maus profissionais, que existem em todas as categorias.
Retornando ao assunto da promotora estuprada, vejo como muito hipócrita a noção de que tal crime possa ter “chocado a sociedade baiana”. O governador Jaques Wagner, que sempre foi notório pelo seu descaso com a segurança pública, tomou providências imediatas, mobilizando o aparato policial da capital para solucionar imediatamente o crime. Os bandidos foram presos em pouco mais de 24 horas, uma celeridade que não é condizente com a realidade baiana, onde crimes tão ou mais graves acontecem diariamente e ficam sem resposta. Wagner se apressou em expressar publicamente a sua solidariedade com a representante do Ministério Público. Teria ele a mesma preocupação se a vítima fosse uma estudante, professora, enfermeira, comerciária, ou mesmo uma soldado da Polícia Militar?
Em minha opinião, o estupro da promotora, embora ato repulsivo e condenável, não difere em nada do mesmo delito cometido contra qualquer outra mulher. Acredito que o caso deve receber o mesmo tratamento de todos que ocorrem todos os dias. Será que os acusados de violentar a promotora terão as suas prisões relaxadas em poucas semanas, a exemplo do que aconteceu com os músicos da banda New Hit, acusados de estuprar brutalmente duas jovens, que eram até virgens antes da violência? Pago pra ver!
Outra coisa, que a polícia não divulgue as identidades das vítimas isso é compreensível e até louvável, mas porque não divulgou as fotos dos presos no caso da promotora? Para não constrangê-la, já que um deles é conhecido pela alcunha de “Zoião”?Então as mulheres comuns podem ser constrangidas, submetidas a zombarias públicas, mas as autoridades não?
É deplorável o fato de que crimes gravíssimos sejam cometidos cotidianamente, como homicídios pelos motivos mais banais, roubos e estupros e os autores saiam impunes. É preciso que uma desgraça aconteça com alguém rico ou poderoso para que providências reais sejam tomadas.
A Bahia ainda não se libertou do seu ranço colonial. 190 anos se passaram desde a Independência do Brasil e 123 desde a Proclamação da República e parecem que ainda vivemos naquela Bahia dos senhores de engenho e dos escravos. As estruturas de poder continuam as mesmas, apenas com uma roupagem diferente.
Somos súditos de um reino podre e que não é a Dinamarca, que por sinal vai muito bem.
Pedro Ivo Rodrigues é jornalista, formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail: [email protected]
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