Eu morava em frente á Academia de Polícia, que ficava do outro lado da avenida, em frente ao mar, ao lado da estação das barcas. Do meu lado se via o mar, a academia e o outro lado da baía. Todo iluminado, pois entardecia, eu não sei se era horário de verão, ou mesmo um entardecer suave, com uma luz brumosa. A academia era alta, tinha uns quatro ou cinco andares, de janelas de vidros na frente, dos lados alvenaria, sua cor oscilava entre o verde claro e o amarelo pálido.

Seu muro e suas portas de entrada estavam quase fechando, tinha pouca gente na rua e na frente da academia. Entre nós, eu e um amigo meu, que estávamos sentados no chão, de terra, numa pedra ou pedaço de madeira, olhávamos tudo aquilo e conversávamos. Entre nós e a academia entre as duas pistas da avenida existia um enorme viaduto, com seus pilotis de concreto, lisos, mas me pareceu que ele não estava acabado, e que me lembre eu não vi movimento de veículos sobre o viaduto. Do outro lado da academia as pessoas estavam sem seus uniformes, ou eram pessoas comuns sem farda, ou uniforme. Passeavam, conversavam e se moviam lentamente, pausadamente. Meu amigo e eu tirávamos alguma prosa, não sei se em versos, ou se normalmente. Do nosso lado, lixo, nos terrenos baldios, dos nossos dois lados, o lado direito e do lado esquerdo, pedras, pedaços de pau, sujeira, montueira de coisas, sujas e velhas e jogadas fora, sem utilidade. Uma porqueira. Não sei porque, mas entre nós, os pobres, meu amigo interrompeu repentinamente a conversa, se levantou e foi-se embora, sem se despedir. Ele usava uma calça comum sem ser de jeans, e uma camisa branca, não tinha barba, não era musculoso, ou atlético, era uma pessoa normal e comum. Mas era o meu amigo. Do outro lado da baía, via-se ao fundo uma cidade luminosa, cheia de prédios altos, parecia ou com o Rio de Janeiro, visto de Niterói, ou com Nova York, visto de Manhatan, ao entardecer. Suas luzes brilhavam no oceano, ora vermelhas, ora de mercúrio, ora verdes, ora amarelas. Em geral elas de longe piscam e brilham. Os prédios, também, estavam todos, muito bem iluminados. E piscavam como piscam os vaga-lumes ao anoitecer. Andei por aquela tarde, sem saber para onde eu ia, e o que significava para mim

a Academia de Polícia. Caminhei por umas ruas sem saída, mais parecidas com as ruas de uma favela, onde pessoas, poucas pessoas, e poucos carros e caminhões circulavam, por sobre as pedras e os paralelepípedos, sujos de terra, e lixo. Lembrei-me que eu queria ir á uma lan-house, ainda não sei para que. Mas fui andando e me lembrei que existia uma lan, ali perto, no segundo andar de um prédio de esquina, redondo. Ao caminhar, me apareceu um belo cachorro, grande, tipo labrador, muito comum aqui em Paraty-RJ, de pelo dourado, e muito manso, que se aproximou de mim, e solicitou carinho e atenção. O afaguei, e o acariciei. Ele não latiu, aconchegou-se, mais a mim. E não emitiu nenhum latido. Olhei nesse momento para alto do prédio onde a lan estava, estava aberta e me encaminhei para lá; não antes sem encontrar uma mulher branca, de meia idade, esticadas as suas pernas na escada que daria acesso á lan. Afastei-me dela, passei lentamente ao largo, e me encaminhei para a lan-house, sem me apressar. Lento e calmo.

E agora estou eu aqui a pensar o que é que eu ia fazer na lan, o que é que eu iria escrever para vocês.

Sem nada saber, me decidi a sentar aqui e escrever descritivamente essa sensação do que seria essa visão e a cidade iluminada ao longe de mim.

Seria o contraste entre a riqueza e a pobreza, que me fascina, e que ao mesmo tempo me maltrata?

Quem de nós gostaria de ser policial ou freqüentar uma academia de polícia? e para que faria-mos isso?

Será que já não somos policiais, de nós mesmos?

Reprimir o crime, se especializar em combater os malfeitores e a corrupção?

Aprender a defender-se? De quem?

Quem é que nos está importunando?

Temos esse tipo de problemas?

Queremos, para nos defender usar armas e matar pessoas, bandidos, sei lá o que?

Ou viver do lado de lá na outra cidade iluminada onde também existem pessoas perigosas?

Como se lá não as houvesse!!!!.

Não senhores.

Não precisamos mais combater o crime, porque para isso existem as leis e os órgãos oficiais, existem ainda as educações

do lar e das escolas, e principalmente a educação da vida, que nos premia segundo as nossas intenções e atitudes.

Não, não precisamos mais nos reprimir.

Mas precisamos sim reprimir o que nos é indesejável e indesejável para o mundo e para os nossos semelhantes.

Existem políticas da boa vizinhança, até onde a nossa tolerância permitem.

Então saberemos que este sonho nos diz sobre a nossa alma.

Que devemos freqüentá-la constantemente, assiduamente, para consultá-la sempre quando nos virmos em dificuldades, e passadas as dificuldades pelas nossas almas resolvidas.

Acrescentemos á essa massa física e humana que somos nós mesmos.

O amor, a tolerância, a paixão, o perdão, a amizade, e muito mais.

Freqüentemos então Academias do Amor, da Paz, da Tolerância, da Paixão por si mesmo e pela humanidade, freqüentemos as Academias do Perdão, da Evolução Espiritual, da Dignidade, da Evolução e Estabilidade Coletiva da Humanidade, e freqüentemos todas as oportunidades de evoluir espiritualmente, emocionalmente, e coletivamente.

E freqüentemos assiduamente a natureza.



Atenciosamente.

Dr Cesar.

Médico Antroposófico.

Paraty-2013.

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